segunda-feira, 6 de maio de 2013

Frequência Equalizada


Quem agora me vê, percebe que eu encontrei você. Na farmácia, na rua, na fila do pão. Não é difícil de reconhecer que eu tenho você.
Conto os carneiros, desenho as nuvens e pulo os bueiros. O que antes já havia sido enterrado, hoje voltou à vida. Os meus mais profundos medos se acalmaram até se colocarem a adormecer.
Não é difícil de ver, todos os lugares que eu vou tem uma coisinha de você. As personagens dos livros, as vozes nas músicas, até meu lápis e meus cadernos. Todos notaram que eu encontrei você.
Eu, de tão nublada, e você, tão cinza. Fundimos nossa monotonia, transformamos em sintonia. Você, que pegou tua solidão e fez par com a minha.
Minha pele, meus cabelos, minhas mãos, meus lábios, meu corpo. Todos eles imploram por você. Tão repentino, tão constante. Há um rastro teu em cada centímetro do meu ser.
Você, sua cama, nossos discos e nossos filmes - o resto do mundo insiste em se esconder. Um dia frio, nosso cobertor, tua pele esquentando a minha. Que outra explicação poderíamos ter?
Já estávamos escritos, querido. O destino selou nossa dívida por este pequeno favor. Fomos programados desde aquele banco de praça, aquele fim de tarde pintado de púrpura e os lábios recém anestesiados. Fazendo-me agradecer aos céus pelo vento forte que soprou-me para longe e me fez esbarrar em ti.
Suba em nosso barquinho, reme para onde quiser. Eu não me importaria em ir para longe... A minha moradia é dentro de você.

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