quinta-feira, 8 de maio de 2014

Compulsão


"Com-pul-são: s.f. Ação ou efeito de compelir.
Exigência interna que faz com que o indivíduo seja levado a realizar certa coisa, a agir de determinada forma, etc. Compulsões. Do latim: compulsio.onis."

Pensando e martelando ultimamente cheguei a uma infeliz (mas verdadeira) conclusão sobre esse tal produto que distribuem por aí, fazendo propagandas enganosas enquanto nós, meros seres sedentos pelo elixir da "felicidade eterna", caímos nesta façanha como coelhos atraídos pela trilha de cenouras e capturados de repente na cesta do caçador. Esse produto cuja habilidade é totalmente implícita. Esse tal de amor.
O amor é como as químicas e drogas que vemos e evitamos por aí... Ou talvez não, ele é pior. O amor é pior que a nicotina e outras químicas, pior que a cocaína, pior que a heroína: ele não vem com um aviso de perigo na embalagem, dizendo que você estará em risco se usá-lo. As pessoas não fazem campanhas para advertí-lo que não faz bem para a saúde, os efeitos e consequências que o mesmo causa. Você não tem a plena consciência de que, desde a primeira dosagem, a dependência começa a correr por suas veias e depois de um certo tempo você se encontra jogado ao chão frio, ansiando por mais uma dose, mais um pouquinho, mesmo sabendo que está acabando consigo, e sem mais nada sobrando exceto o vício e a auto-destruição.
O amor é a droga da minha droga, o amor me consome e me debilita. Ele não é leve, ele é pesado. Ele é a cruz que eu carrego sob as minhas costas, cujo peso é mil vezes mais do que minha capacidade suporta. Eu arranho as paredes, eu me encolho de dor, eu não durmo à noite. E quando penso nisso, me pego em desespero por tudo o que me causou, e por onde cheguei. Me desespero por sentir, por sentir desse jeito, por sentir tanto assim, mais que tudo, com todos os meus órgãos, com cada célula, centímetro ou átomo do meu corpo, do meu ser. Eu não me sinto mais completa, sinto que estou transbordando... E eu estou me afogando nesse mar de destruição.
Enquanto isso acontece, nosso filme continua rodando e rodando, repetindo cada palavra e cada toque, e eu assisto mesmo contra a minha vontade, mesmo quando o que desejo era queimar tudo ali.
É assustador o que tudo isso se tornou, e eu não posso largar - simplesmente não posso.
Já vendi tudo o que eu tinha para pagar minha dívida com o amor, mas o problema aqui é que não tenho mais nada a oferecer, tudo o que me sobrara é sentir - a droga do sentir. Essa droga que é sentir. Essa droga que é estar perto. Essa droga que é estar longe.

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Das Doses de Memórias Persistentes


Aquele laço que, um dia, tanto prezamos em cuidar, assim, meio de repente e também aos poucos, se desfez. O nó que tanto apertamos e emaranhamos em meio àquele caos que nos encontrávamos foi separado - nós mesmos o separamos.
Entre altos e baixos, idas e vindas, afeto e rancor, batalhas e juras de amor, beijos e venenos, o sentido acabou se escondendo de nós.
Suponho que ter me acostumado por tanto tempo tenha causado isso em mim. Foi como um curto-circuito. Enquanto as ondas elétricas daquela razão passavam por minhas veias, a gravidade afugentou-se e me soprou para longe, como um balão sendo levado por ventanias tempestuosas.
Enquanto despejava palavras que nem eu mesma queria acreditar, o furacão em seu olhar cortou o silêncio repentino daquela decisão. No mesmo instante que uma voz suplicante dentro de mim tentava me convencer o contrário, tentei me manter firme ao mesmo tempo que estava desabando. Aqueles olhos denunciando sua dor me puxavam e então vi nossos dois corpos caindo naquele abismo.
E agora, sigo meu rumo. Ou finjo seguir, para não deixar aquela fraqueza que só você pode fazer surgir em mim tão aparente. Busco por dias melhores, coisas desconhecidas e cores novas.
Encontro-me aqui observando o céu sem estrelas enquanto aquele turbilhão de pensamentos são processados simultaneamente. As paredes amarelas pintadas por nossas risadas foram desbotadas, tornando-se cinza daquela melancolia toda. Tento afugentar as nossas memórias que, de tão intensas, passam a ser possíveis para mim de tocar, e logo em seguida, encontro-me revivendo todas aquelas lembranças com uma expressão meio boba no rosto. Forço minha mente a expelir o que de ruim ficou, deletar todos os erros e as chances jogadas ao ar, as guerras e as palavras que atingiam com precisão, as inúmeras falhas desculpas e os sentimentos que se tornaram tão exaustivos e pesados.
A verdade é que amar tornara-se doloroso, me deixara exausta. Exausta daquele fardo pesado que era sentir (e, oh meu Deus, eu senti tanto!). Essa bola de ferro que arrasto em meus pés com o pesar desse sentir intenso. Acabou como um trabalho árduo que joguei sob minhas próprias costas.
Enquanto entrego ao vento todas aquelas antigas mágoas e sinto-me um pouco mais leve, desejo que as coisas não tivessem tomado o rumo que seguiram, entretanto o destino prega-nos tantas peças, nos surpreende de formas tão impossíveis... Por isso, o deixo se encarregar da minha decisão. No entanto, não me arrependo. Sentir aquela dor torturante acabou me embebedando de masoquismo. Quando voltei à minha sã consciência, era tarde para consertar. O amor deixou meu coração de ressaca. Então um brinde aos corações partidos!
Guardemos nossas memórias. Eternizei cada olhar que gritava o que nossos lábios não precisavam dizer, cada beijo urgente para saciar aquela saudade martelante no peito, cada toque, cada risada, cada abraço - incluindo aquele último com gosto amargo de "adeus".
Que essa falta de 'nós' nos dê a certeza da dúvida que nunca soubemos explicar, se ainda vale à pena lutar para ressuscitar o que tanto tentamos enterrar.
Visto minha mente de escuridão. Meus pêsames, estou de luto por nós.

domingo, 6 de outubro de 2013

Rio da Melancolia


Sorriu com as cores vivas nas ruas sinuosas, engoliu seus biscoitos e agarrou a mão estendida ao lado. Observou um rio nascendo logo abaixo do sol, e esse tornou-se seu lugar favorito. Sentiu o calor no rosto, e cantarolou uma música de verão enquanto observava os galhos das árvores, porque isso era o que estava em toda parte.

Despediram-se as estações. Não dormiu à noite, porque estava escuro e não entravam mais para contar-lhe histórias, e os gritos entravam em seu lugar. Da janela de seu quarto, avistou seu rio correndo perto da porta. Cobriu os ouvidos com as mãos e sussurrou para não ter medo, pois era isso o que estava em toda parte.

Piscou os olhos ao som de sua canção favorita, tentou lutar contra as lágrimas - havia prometido a si não mais ceder. Seus pés não cabiam mais no colchão úmido. E gritou com a tristeza, porque era o que estava em toda parte.

Pôs para repetir seu disco dos Smiths, mas os quadros continuaram se movendo e as paredes giravam e dançavam. No entanto, tudo o que mais queria era não pensar sobre isso. Apanhou seus cigarros e fumou sua solidão, pois era o que estava por toda parte.

Após uma furiosa tempestade, seu rio emergiu. E inundou sua casa, seu quarto, sua vida. Mas ele não sabia como fazer suas pernas mergulhadas nadarem para fora das profundezas. E afogou-se... 
No Rio da Melancolia. Porque agora era o que estava em toda parte.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Eterno Efêmero



Decidi escrever sobre você. Pela primeira vez, pela última vez. Despejar no papel essa voz que sussurra baixinho na minha cabeça e depois grita quando eu dou o mínimo de atenção. Mas não como essas decisões que se toma de um dia para o outro, assim, de repente. Me refiro a essas que ficam martelando na mente até a gente ouvir. Constantemente.
E minha cabeça doeu de tanto martelar. Principalmente logo após tantas vezes que me perguntavam sobre você e eu, franzindo o cenho e mordiscando o canto do lábio, desconversei e tentei disfarçar. Logo eu, destinada a ser sempre tão orgulhosa e teimosa, virei o rosto e não dei ouvidos. Não me permiti ceder. Então essa tal voz fez questão de insistir no incômodo. E que transtorno! A cada vez que eu mentia para todos e tentava convencer a mim mesma que não sentia falta, as borboletas que fazem moradia em todos os meus órgãos vitais se inquietavam cheias de rancor. "Oh, fiquem quietas!" era o que eu incansavelmente suplicava a essas ingratas, para cessarem o atrito. Entretanto, depois de tanto forçar os ponteiros dos relógios para a frente e empinar o nariz, um momento minha teimosia dá lugar à razão (ou o que quer que seja). E agora cá estou, ainda desconversando, tentando arrancar as asas das palavras e colocá-las em seus devidos lugares.
De certa forma, é bem complicado o rumo que essa situação tomou. Depois de tudo, eu digo. Depois desse sentir exagerado, intenso, extremo. Logo você, que era o ponto de descanso para as minhas aflições. Que era a paz dos meus atritos. Logo você, que mesmo sem saber, acolhia minha alma junto à sua quando eu entregava-a em suas mãos sem sequer pensar. Quando eu chegava com os dedos congelados, sem nunca pedir, sem nunca me expressar, e você aquecia esse meu inverno interno.
Foi tudo muito grande o que construímos, mesmo com material inadequado. Nós tínhamos o mundo todo a nosso favor. Eu sei que você se lembra. Eu sei que isso te assombra durante à noite. Você me olhava e eu sabia que tinha tudo. Mesmo que confundisse minha mente, eu continuava ali, segurando sua mão. Você me abraçava e eu ficava em paz... Mal sabíamos nós que tudo que é intenso se torna muito difícil de se lidar. As piores coisas vêm de graça para nós.
E então, quando ninguém nunca esperava, o caminho que era tão claro e reto, tornou-se sinuoso, ficou escuro demais para enxergar. Após entregar o que me era mais valioso em suas mãos, mesmo sempre calada, com o olhar desesperado, você deixou tudo escorrer por entre seus dedos para agarrar algo que simplesmente não valeria o esforço. Tudo se perdeu, então o mundo desmoronou e eu fui parar do outro lado dele. Nos colocou em vidas opostas, semelhantes àquelas em que nos encontrávamos antes de nos conhecermos. Trágico? Agora não tenho tanta certeza... Eu já nem te reconheço mais. E eu sinto muito mesmo pelo que você se tornou.
As memórias vão continuar aqui, guardadas como um filme que roda sem cansar. Nesse eterno efêmero. Sem rancor, sem mágoa, sem nada. Transbordando saudade de uma pessoa que eu não encontro mais em nenhum corpo, nem mais no seu. Melhor assim, não ter mais você para mim. Deixe que nossas pernas encontrem seu rumo certo, não há mais o que fazer.
Aproveite as noites gélidas, sinta o frio desse inverno. Lembre-se. É assim que se encontram nossos corações.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Desvanecendo



Ando me perdendo. Perdendo cada partezinha de mim por aí. Cada mísero centímetro do meu ser se esvaindo no ar. Dia após dia, tornando-se cinzas, transformando-se em pó. E assim continuo vagando por aí, incompleta, deformada, retorcida. Obrigando meu corpo a prosseguir só com o que, por ora, sobra do que sou. Caso encontre algum pedaço meu em algum canto, servirá para lembrar que, algum dia, já fui alguma coisa (ou já ao menos passei perto de ser).
As lembranças cessaram, a fumaça se dissipou, a voz ecoou, o cheiro se apagou e o sentimento sufocou. E me perdi, me prendi... Dentro de mim mesma.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Frequência Equalizada


Quem agora me vê, percebe que eu encontrei você. Na farmácia, na rua, na fila do pão. Não é difícil de reconhecer que eu tenho você.
Conto os carneiros, desenho as nuvens e pulo os bueiros. O que antes já havia sido enterrado, hoje voltou à vida. Os meus mais profundos medos se acalmaram até se colocarem a adormecer.
Não é difícil de ver, todos os lugares que eu vou tem uma coisinha de você. As personagens dos livros, as vozes nas músicas, até meu lápis e meus cadernos. Todos notaram que eu encontrei você.
Eu, de tão nublada, e você, tão cinza. Fundimos nossa monotonia, transformamos em sintonia. Você, que pegou tua solidão e fez par com a minha.
Minha pele, meus cabelos, minhas mãos, meus lábios, meu corpo. Todos eles imploram por você. Tão repentino, tão constante. Há um rastro teu em cada centímetro do meu ser.
Você, sua cama, nossos discos e nossos filmes - o resto do mundo insiste em se esconder. Um dia frio, nosso cobertor, tua pele esquentando a minha. Que outra explicação poderíamos ter?
Já estávamos escritos, querido. O destino selou nossa dívida por este pequeno favor. Fomos programados desde aquele banco de praça, aquele fim de tarde pintado de púrpura e os lábios recém anestesiados. Fazendo-me agradecer aos céus pelo vento forte que soprou-me para longe e me fez esbarrar em ti.
Suba em nosso barquinho, reme para onde quiser. Eu não me importaria em ir para longe... A minha moradia é dentro de você.

domingo, 30 de setembro de 2012



"Quero teu corpo no meu
Quero manhãs geladas
Meu sorriso no teu
pernas entrelaçadas
teu eu no meu eu."

domingo, 9 de setembro de 2012

Estilhaços de Pesadelos Constantes


Abracei minhas costelas e apertei-as,
parecia que elas iam se quebrar.
Sentindo aquela dor torturante, descobri:
Não eram as costelas que estavam se quebrando,
e sim minha alma que tinha se despedaçado em mil partes.
Juntei todas elas,
e fui dormir segurando os estilhaços na palma das mãos.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Fragmentos de Um Novo Sentir



"Vale a pena enfrentar qualquer tempestade por quem te faz lembrar o sol."


Nossa canção ainda ecoa em minha cabeça. E vai ecoando... Em minha cabeça, mente, corpo, em cada pedacinho de mim.
Canção esta feita pelo som da sua voz e meus suspiros. O barulho da sua respiração e meus acelerados batimentos cardíacos. Suas risadas e meus choramingos. Suas notas desafinadas e meus apelidos. Suas gargalhadas e meus sorrisos... Esta que, além de dentro de mim, guardei em minha caixinha de música. E eu, de tão pequenina, para alimentar essa saudade constante de você, guardei-me na caixinha junto a essa minha tal música favorita. Só para preencher o espaço vazio que aqui fica quando você não está por perto.
Você sabe, é você. Todo o tempo. Eu o vejo, a maior parte dos dias, e por vezes é a única coisa que me faz manter os olhos abertos. Eu sei, ah, eu sei que o futuro é incerto e o amanhã pode não existir. Então vamos ficar aqui, juntos, por ora, sem ter com o que nos faça a mente preocupar. Está frio lá fora, e aqui ao meu lado há um lugar para você ocupar.
Ah, como eu queria que nossas vidas pudessem continuar a se juntar em uma só. Ah, como eu queria que não existisse nenhum impedimento ou perigo de desatar o nosso nó. Ah, como eu queria que o seu sorriso fosse me presenteado e pertencido só a mim, assim, sem dó.
Sim, eu ainda me lembro de quando você foi entrando na minha vida, de repente, assim, aos poucos. De fininho. Até nossos mundos colidirem e nossas vidas se fundirem em uma só. De como você fez sua bagunça para tentar organizar a minha. De como você me encontrou quando eu já tinha esgotado minha fonte de esperança. De como você não desistiu de mim quando até eu tinha desistido de mim mesma.
E você veio até mim, tentou me decifrar, tentou de todas as formas, até derreter essa minha frieza e colorir minha vida preta-e-branca.
Então descobri que não quero viver uma vida sem tudo isso. Sem seus chiliques, seus ataques de ciúme bobo, por qualquer coisinha, e sua expressão carrancuda. Sem você me fazer rir quando eu estou brava contigo, sem me fazer sorrir quando aquelas malditas lágrimas teimam em cair, sem seu nervosismo e sua facilidade de ser irritado. Descobri que quero sempre sentir o sabor de zombar das palavras que você pronuncia de forma engraçada, te dar apelidos bobos e te xingar quando o seu único objetivo é me tirar do sério. Sujar seu rosto de sorvete, implicar por tudo, caçoar de você e depois te beijar como forma de amenizar a situação. Cheguei à conclusão de que preciso desse seu sorriso à toa, das suas palhaçadas e dessa sua facilidade de me fazer rir. De como você faz minha paciência se esvair. De como você me beija quando eu fico tagarelando, só para eu parar de falar. Da sua expressão boba no rosto de quando diz que me ama e quando você tenta me convencer do quanto me acha bonita. Dessa sua forma louca de se expressar, de falar, de viver.
Mas eu nunca lhe disse tudo isso. Nunca há palavras certas para encontrar. Nunca te disse que o som da sua voz soa como sinfonia para mim. De como o meu coração sente vontade de dançar e cantar quando você está perto. Nunca te falei do quanto amo esse seu cheiro, esses seus olhos, essa sua paranoia, seus dramas, suas idiotices, esse seu sorriso, esse seu jeito - você.
Talvez... Bem, talvez, meu paraíso seja esse. Podemos continuar assim pelo resto do meu tempo, pela sobra dos meus dias.
E nosso nó continua se apertando, se embaraçando todo. Embaraçando, embaraçando. Me embaraçando. Embaraçando o nó, embaraçando "nós".

terça-feira, 27 de março de 2012

Sobre Asas Presas


E então, ela finalmente libertara aquele pássaro - o seu pássaro. Deixou que voasse para onde quisesse, para conhecer novas terras, sentir outros ares... Descobriu que se tivesse sido ali o seu lar, ele voltaria sem poupar esforços às suas asas. Voltaria com pressa, urgente. Sem vontade de deixar.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Dias Chuvosos, Mente Nublada

 
Olhando pelo vidro da janela, sinto as memórias corromperem minha mente. Sinto o aroma daquele passado agridoce, e enquanto oscilo entre admirar e tentar esquecer, sinto um gosto amargo na boca. Gosto de saudade.
Está tão frio, tão cinza. Minhas barreiras caíram por terra, mesmo depois do enorme esforço que fiz para me proteger.
Observo a chuva cair e misturar-se com minhas lágrimas enquanto o céu escurece. Aquela dor sufoca minha garganta, mal consigo respirar. Meu mundo havia desabado. A ideia de gritar o que ecoava no vazio do meu espírito soava convidativa para mim.
Mas, no fundo, a verdade é que nunca vou encontrar uma maneira de curar minha alma.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Amargas Epifanias


E me perdi entre as mentiras e fantasias. Caí de bruços em uma grande ilusão. Tentei gritar, mas não pude emitir som algum... Minha garganta sufoca. E há algum medicamento capaz de curar ferimentos na alma?
Traço meus planos, sigo meus próprios caminhos. Desvio das cercas de leões vestidos de cordeiros. Meu interno agoniza, mas tudo que posso fazer é vestir meu casaco e sair pelas ruas desertas. Acelero o passo, o tempo voa, perde-se, e o pesadelo ainda me segue...
O doce se tornou amargo, o café esfriou. O que era imutável mudou.

Sou o fogo que queima minhas lembranças, sou o que escorre da minha consciência, sou a cinza que ficou do passado.
Eu sou nada, eu sou tudo. Sou o que não sobrou da razão. Sou o que não faz mais sentido. Uma doce desilusão.
O que restou de mim, afinal? Eu sou o que a vida ainda não me arrancou.
Em mim há uma enchente... Pois que tragam os botes, há muitas mágoas a salvar.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Escovando Pensamentos Noturnos


Debruçada em minha janela, levanto os olhos para o céu tão peculiarmente calmo que causa-me desespero olhar. Observo as luzes natalinas piscarem de uma forma tão amarga ao meu espírito incapaz de perceber o tempo que passou... Olho para as ruas completamente vazias e me pergunto o que vai ser da minha pessoa no futuro - este se aproximando mais e mais.
As paredes desbotadas das casas vizinhas me fazem sentir falta de coisas que doem-me tanto que minha mente cansada se nega a lembrar.
O vento passa por meu rosto; eu continuo sozinha.
Tudo mudou tão rápido, tão de repente... Não sei qual é o caminho certo. Não sei nem se há caminhos certos para mim.
Como é estranho sentir essa alegria intensa e durante à noite voltar ao vazio, voltar ao oco...
Esses pensamentos nublados assaltam-me uma dose a mais de amargura, essas tempestades e naufrágios de minha mente causam-me o martelar durante a madrugada.
Com os olhos cansados, deito minha cabeça e me pergunto onde será que a esperança se escondeu.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Novos Hematomas

 
E ontem deitei minha cabeça no travesseiro e não consegui dormir. Não dormi porque fiquei lembrando de cada momento... Isso doeu, e muito.
A cada lembrança, uma nova ferida irradiava no meu peito, sendo rasgado pela saudade e pela certeza de que nunca mais vou reviver momentos como aqueles que passei ali, que não vou mais ver aqueles rostos na minha rotina, que aquele percurso não fará mais parte do meu novo trajeto.
E com tudo isso, um enorme buraco fora aberto dentro de mim, e as bordas ardiam, e aquilo queimava, e eu me retorcia. Sentia que, descobrindo que fora naquele lugar que aprendi o que era felicidade, meus órgãos mais vitais estavam sendo estilhaçados. Então abracei minhas costelas, porque era como se elas fossem se quebrar. Apertei com força, pois aquilo dentro de mim poderia quebrar meus ossos.
Agora, tudo o que eu tinha era uma cachoeira de lágrimas, as lembranças mais felizes - e doloridas - passando como flashbacks em minha falha memória e uma saudade imensurável desses oito anos que só agora me dei conta que passaram.
Sim, o futuro está me engolindo. Ele não batera na porta - quando chegou, entrou sem avisar, e isso causara um estrago tão grande...
Com a mente cansada, os olhos ardendo, encontrei estilhaços meus pelo vento gélido que levara de mim todo o motivo do meu acordar.

domingo, 6 de novembro de 2011

Falsidade Na Ponta Dos Pés


Vê essa bailarina
Girando na ponta dos pés
Dentro da caixinha empoeirada?
Bem, ninguém desconfia
Mas há uma angústia por trás desse doce sorriso
E dessa felicidade maquiada.

Na ponta dos pés,
Equilibra o peso do corpo e o peso do desgosto.
Girando e girando
Fugindo em círculos
Com uma auto-confiança falsa no rosto.

Por trás daquela beleza toda
Por trás da delicadeza,
Há o desespero presente
Há uma horrível fraqueza
Abraçando-a quando o show acaba
Ouvindo-a chorar, paciente.

Com o rosto erguido
E os braços esticados
Flutuava sobre a porcelana mofada
Pulando em cima dos cacos de vidro
Com seus lamentos apertados.

Eles a aplaudiam
Suspiravam e adoravam seu espetáculo
Mas eles não sabiam
Do seu terrível obstáculo
E da destruição que o barulho causava.

Sozinha com suas sapatilhas
Com a mágoa borbulhando
E o horror no fundo dos olhos
Mascarava tudo isso
Até que se pegou afundando.

A figura delicada
Flutuando na ponta dos pés
Não é fácil de esquecer
Assim como a imagem
Do corpo de porcelana abandonado no chão
Quebrado pela solidão que o fizera perecer.

Sopro


"Que sensação mais estranha..."

Existe realmente o que procuro, sem ter consciência disso? O que foi que não deixou-me afundar? O que não permitiu que eu me afogasse por completo?
Eu me obrigara a continuar nadando no mar denso de confusão, mesmo sem vontade. Obriguei minhas pernas a continuarem andando quando meus olhos já não enxergavam mais.
"É uma nova fase", os ventos de Novembro sussurram em meus ouvidos. Pois bem, estou preparada. Depois de tanto tempo em manutenção.
Meu caixão já fora ocupado tempo demais por meu corpo - que já crescera demais para se encaixar no mesmo lugar. Olho em volta, as coisas envelhecidas me esperam do jeito exato em que foram deixadas... Desta vez eu não vou sufocar na angústia que me cerca. Desta vez estou pronta para a batalha. Desta vez, fiz da minha própria fraqueza um estoque de munição.
O barulho dos ponteiros do relógio só me incomodam pelo tempo que foi gasto em vão. Meus pulmões respiram o novo ar, respiram o ar de mudança. Meus pensamentos já foram fisgados demais na escuridão desta cela. Os cubículos já desapareceram - tudo o que eu conhecia desapareceu, na verdade. Tudo se esvaiu naquela neblina de inverno.
Não, eu não posso salvar-me de mim mesma, mas posso tentar ajudar-me. A única mão que sempre estivera estendida fora a minha própria, e sobrevivo até esse instante possuindo-a apenas. Uma forma de sobrevivência torta mas que, inexplicavelmente, funcionara. Uma forma anormal, uma forma única, minha.
Portanto, aqui estou eu, mudada. Aqui estou eu, diferente. As sombras perseguem, as vozes atormentam. As cicatrizes não desapareceram, elas apenas constatam que o desespero existe, que a ausência existe, e que mesmo quando não há esperança se pode continuar.
O torpor rasteja em minha direção, mas há possibilidades de se fazer curvas, não há?
Estou aqui porque o acaso vive, porque a perseverança se esconde nos lugares mais profundos e ocultos do meu ser e pelo anseio de sentir brisas novas passarem por minha face. Ainda vago por esses caminhos porque meus pés ainda sentem necessidade de presenciar descobertas.
Vamos chamar isso tudo de utopia, sequer uma vez? Não me importa, de qualquer modo.
Que venham as mudanças, que venham as novas fases, que venham mais mágoas, que venha mais lamento, que venha o que for oferecido, que venha a nova chance. Eles não podem me prender... Não mais.
Vamos fazer valer à pena?

E que o novo fôlego me permita recuperar tudo o que a vida, um dia, me levou.

sábado, 22 de outubro de 2011

Devaneios


Vazia, sozinha com os pensamentos que adquiriu
Sentada nesse quarto escuro
Só enxergava o muro
E a barreira que construiu.
          
Afastava a cura
A doença trazia para si
A realidade é dura
Mas, talvez, seu fim seria assim.
       
Um corpo inanimado
Um precipício dentro de uma cabeça
Tudo o que tinha planejado
Talvez nunca aconteça.
              
Não conseguia mais sentir
Não havia como acreditar
Só restava para si mesma mentir
Que tudo iria melhorar.
             
Duas pessoas distintas
Vindo ao mesmo corpo ocupar
Encontrava-se no banheiro chorando
Por não saber qual lado escutar.
         
Ela só tenta escapar
De um mundo que ela mesma criou
Presa dentro de uma gaiola
Que ela mesma trancou.

(Dedicado à "Sociedade dos Poetas Vivos".)

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Névoa


"No mundo, existem dois tipos de pessoas: Aquelas que chamam a atenção e as que observam."

E Lucie, sem sombra de dúvida, pertencia a seu próprio mundo de observação. Era uma simples e pequena mancha na paisagem.
De começo, Lucie achava tudo aquilo cômico, até seu torpor. Era indiferente quanto à ausência de sentimentos, a falta de sinais que a tornavam real. Vivia como se fosse invisível, ou, talvez, realmente fosse.
Vestia seu casaco por cima da pele pálida, arrumava levemente seus cabelos louros cor-de-neve e saía de casa logo pela manhã. Tinha um olhar devastador. O vento frio acariciava seu rosto doentio, suas botas afundavam na neve. Essa era sua típica manhã de segunda-feira. Voltava do trabalho com uma nova reclamação ou xingamento de seus superiores em mente. Pouco se importava. Entrava na casa vazia e solitária, passava pelos cômodos gélidos. Ria de si e de sua própria vida. Lucie estava à beira da sanidade.
Se olhava no espelho e não havia nenhum reflexo. Comia algo e não sentia nenhum sabor. O sol entrava pela janela e ela não sentia calor algum. Chegava a madrugada, não havia sinal de sono. Lia algum livro para o tempo passar mais depressa. Mas o relógio ali batia mesmo?
Manhã de terça-feira. Dormia algumas horas mais e saía para distrair-se. Sentava em um banco da praça, lia e relia seu livro favorito ou simplesmente andava a observar o comportamento de pessoas cheias de vida, das árvores, dos insetos, do céu, das nuvens, de qualquer coisa. Os detalhes eram tudo o que chamavam a atenção da garota-zumbi. Observava objetos jogados fora, espalhados pela rua, abandonados, tais como ela. Guardava tudo dentro de si, para que depois pudesse escrever sobre isso. Chegando em casa, encontrava-se sentada na cama, buscando o motivo de tudo e tornando os objetos existentes naquele quarto cheios de movimentos, dava-lhes vida perto de si. Objetos inanimados tinham mais vida que Lucie.
Madrugada de quarta-feira. Um despertar sempre às 02:21. Coisas sobre a mesa, vozes dentro de uma cabeça. Um precipício dentro de uma casa nublada.
Saía pela manhã, como de costume. Iniciava sua caça aos detalhes. Enxergava o que as pessoas não tinham tempo de notar. Pela tarde, existiam encontros falidos, porém um tanto esperançosos. De nada serviam. Fingia ser normal. Via-se dentro de um vestido cinza-grafite e um sorriso ensaiado no rosto. A exaustão a acompanhava no caminho de volta para casa.
Quinta e sexta-feira. Dias com pensamentos nublados. Dias em que não saía de casa. Dias livres para fazer o que quisesse. O problema é que nada queria.
Sábado, domingo. O passado voltava para assombrá-la. Passava dois longos dias com sua ''família'', se é que poderia chamar assim. O mínimo que ela faria era fingir e não preocupá-los, como se eles se importassem.
O problema é que nada estava bem, e isso viria a piorar.
A rotina foi perdendo-se quando o torpor deu lugar ao sofrimento, e à dor, e à angústia e por fim ao desespero. Suas lágrimas pesadas inundavam a casa, afogando-se em sua própria angústia. O travesseiro tornou-se o mar de sua tragédia. Seu olhar tornou-se vazio e sem foco, seu corpo rasgado e seus órgãos arrancados. Já estava morta internamente. Durou um período sofrido de tempo, até que por fim, em um dia mais frio e gélido que o normal, havia alguém com traços esqueléticos e femininos, com cabelos cor-de-neve, olhar distante e deitado imóvel ao chão do banheiro - este inundado por lágrimas e poças de sangue. Carregando-a nos braços, a névoa a levara dali.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Destinatário ausente


Querido você, a quem pertencem minhas palavras.

Quantas cartas já lhe escrevi, para depois guardá-las na caixinha debaixo da cama, sem mandá-las ao verdadeiro dono? Inúmeras. Vinte, talvez? Pouco importa. De nada serviriam, pois não sei se você as leria.
Onde está você, já que não ocupa o lugar a que pertence, que significa ao meu lado? Talvez você esteja bem melhor sem mim. Talvez eu não queira aceitar isso.
Só restam-me lembranças e idealizações suas. Retalhos de mim com memórias de você.
Você ainda se lembra? Você ainda se importa? Você se esqueceu?
Caso não se lembre, éramos tão próximos que podíamos sentir nossa conexão. Você costumava me entender - e tão bem - quando ninguém mais tentava. Costumava me fazer sorrir quando ninguém mais conseguia.
Como pôde se esquecer de nós? Se esqueceu das nossas risadas? Se esqueceu das nossas conversas? Se esqueceu das brincadeiras, dos segredos, dos planos, dos sorrisos? Se esqueceu de mim?
Sem você, continuo aqui, como um objeto inerte, inanimado, sem vida. Por mais que eu queira arrancar-lhe de dentro de mim, minha mente não obedece aos meus comandos. Sinto-me vulnerável. Mesmo que eu queira trancá-las, minhas portas ainda estão abertas para você, somente para você. E por mais que eu tente negar, ainda sobra-me uma esperança vã, que anseia por sua volta, que espera que meu orgulho finalmente perceba que é você o que me falta e que aguarda o dia em que você me tome nos braços e me leve daqui.
Mas meu caro destinatário, não se preocupe comigo. A saudade que sinto de você ocupa o espaço que sua ausência deixou.
Peço-lhe uma única coisa: volte o mais breve possível. Antes que tudo se perca, antes que o rumo desapareça, antes que seja tarde demais.
Então avise-me quando você decidir voltar para iludir-me um pouco mais, pois servirei-lhe meu coração em uma bandeja se estiver com fome, e oferecerei algumas de minhas lágrimas de saudade se estiver com sede.
A quem estou querendo enganar? Esta se tornará mais uma da minha coleção de cartas com minhas palavras incontidas, ocupando espaço dentro de uma caixinha desbotada debaixo da cama. Você nunca saberá.
Entretanto, isso não muda o fato de que estou inutilmente à sua espera.
Sinto sua falta.

Assinado,
Sua patética remetente.

Isso não precisa ser um adeus


E foi o fim de uma saga, mas o início de uma lenda. Vivenciamos cada momento, sentimos toda a emoção, receamos cada perigo, choramos a cada perda, enfrentamos os medos, aprendemos com os livros e filmes. Foi tudo muito mais que algo para assistir ou algo para ler, foi uma cura, uma fuga, um remédio, um mundo novo e melhor que pudemos morar. Marcou parte de nossas vidas, nossa infância, tornou-se algo inesquecível.
Não importa quantas vezes lemos os livros, assistimos os filmes, fomos ao cinema vivenciar um pouco mais ou choramos ao terminar. Sempre viverá dentro de nós.
Só temos a agradecer por ter existido, ter colocado muitos sorrisos em nossos rostos, por ter entrado em nossas vidas e lá ter permanecido.
Não é definitivamente o fim de tudo. A magia sempre aquecerá nossos corações. Hogwarts estará sempre aberta e acolherá aqueles que a merecem.