sexta-feira, 18 de março de 2011

Reencontro

      Eram onze e meia, em uma noite gelada e escura de inverno.
  Senhorita? chamou-a uma voz masculina e um tanto irônica.
  Sim? sentiu seu coração bater tanto que chegava a doer. Reconhecia aquela voz sem ter se virado para ver quem estava chamando-a.
     Virou-se e olhou surpresa para aquele quem lhe havia causado tantas lágrimas.
     Fitou seus traços pálidos, contemplou seus cabelos alaranjados e seus olhos cor-de-mel.
     Sim, era mesmo ele. Sentiu vontade de socá-lo, beijá-lo ou dizer que sentiu sua falta. Não fez nada disso.
  É você mesmo? foi só o que pôde dizer.
  Certamente. disse, com uma dose de sarcasmo.
  O que está fazendo aqui? Por que voltou? Digo, você foi...
  Olhe, desculpe-me. interrompeu-a Sei que fui um tolo por ter ido embora sem lhe avisar. Quis esquecer de... algumas coisas. Descobri que não consigo viver longe de voc... daqui.
     O que poderia ela dizer? O ar de seus pulmões falharam.
     Olhou seu rosto sardento e suas feições ruivas. Ele não mudara nada nesses dois anos. Suas roupas largadas, sua barba cor de fogo, mal-feita, e seus olhos tom caramelo eram seus registros. Sentia falta dele. Muita falta.
     E então notou sua aparência doentia. Estava suando frio.
  Está se sentindo bem? disse, tocando suavemente seu rosto e sentindo a textura de sua pele. Sentiu um arrepio por notar seu ato impulsivo, e o quão perto estava.
    Queria se aproximar mais ainda, mas não o fez. Afastou-se.
    Ele olhou-a curiosamente, querendo tomá-la nos braços e levá-la dali.
  Para quê a mala? disse, olhando para a mala que ela estava segurando.
  Estou... indo embora.
  Como? foi uma facada em seu peito.
 Estou saindo do país. Partirei amanhã. disse ela.
  Por que? ele não queria demonstrar a dor que estava sentindo.
  O que quer que eu lhe diga? Esses dois últimos anos não foram nada fáceis. Decidi me afastar deste lugar.
  Não vá. implorou ele.
  Você se foi.
  Eu sei, e peço-lhe perdão. Foi uma tolice.
  Preciso ir.
  Vamos nos ver novamente?
  Talvez. mentiu ela.
     Os dois tinham o mesmo desejo. Esperavam pela atitude do outro. Ninguém o fez.
  Não sou boa em despedidas.
  Isso é um adeus? perguntou à ela.
  Sim. Adeus, Kurt.
    Quase o abraçou. Ao invés disso, afagou-lhe suavemente o ombro. Kurt fechou os olhos.
  Marrie, espere.
  Sim?
  Eu... Eu te... Adeus.
    Frustrada, Marrie forçou um sorriso e foi embora, desaparecendo na escuridão da noite, enquanto Kurt sangrava por dentro, percebendo a grande tolice que acabara de fazer, na qual deixara a mulher de sua vida ir embora para sempre, e contemplou seus lindos cabelos negros pela última vez.

7 comentários:

  1. De fato, pequenos atos podem mudar toda uma história.

    ResponderExcluir
  2. Na verdade, o que tinha que acontecer sempre acontece. Belo texto.

    ResponderExcluir
  3. Bem, acredito mais na força dos atos. No caso desta história, se Kurt tivesse dito à Marrie que a amava, ela teria ficado e os dois seriam felizes juntos. Obrigada por sua opinião, e obrigada pelo elogio ao texto, de verdade.

    ResponderExcluir
  4. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  5. Oh, quantos desencontros!
    Será que Kurt e Marrie se verão novamente? Estarei na torcida.
    Essa despedida me fez lembrar de um fato... tocante.

    Lindo, lindo, Cá. Conseguiu me emocionar.

    @abookslover

    ResponderExcluir
  6. Oh, Mar, obrigada!
    Na verdade, não pensava em escrever uma continuação, mas seu comentário me fez pensar no assunto.
    Mar, sempre fofa! rs.
    Muito obrigada, de verdade. Me deixou emocionada agora.

    ResponderExcluir

Dê sua opinião.