sábado, 22 de fevereiro de 2014

Das Doses de Memórias Persistentes


Aquele laço que, um dia, tanto prezamos em cuidar, assim, meio de repente e também aos poucos, se desfez. O nó que tanto apertamos e emaranhamos em meio àquele caos que nos encontrávamos foi separado - nós mesmos o separamos.
Entre altos e baixos, idas e vindas, afeto e rancor, batalhas e juras de amor, beijos e venenos, o sentido acabou se escondendo de nós.
Suponho que ter me acostumado por tanto tempo tenha causado isso em mim. Foi como um curto-circuito. Enquanto as ondas elétricas daquela razão passavam por minhas veias, a gravidade afugentou-se e me soprou para longe, como um balão sendo levado por ventanias tempestuosas.
Enquanto despejava palavras que nem eu mesma queria acreditar, o furacão em seu olhar cortou o silêncio repentino daquela decisão. No mesmo instante que uma voz suplicante dentro de mim tentava me convencer o contrário, tentei me manter firme ao mesmo tempo que estava desabando. Aqueles olhos denunciando sua dor me puxavam e então vi nossos dois corpos caindo naquele abismo.
E agora, sigo meu rumo. Ou finjo seguir, para não deixar aquela fraqueza que só você pode fazer surgir em mim tão aparente. Busco por dias melhores, coisas desconhecidas e cores novas.
Encontro-me aqui observando o céu sem estrelas enquanto aquele turbilhão de pensamentos são processados simultaneamente. As paredes amarelas pintadas por nossas risadas foram desbotadas, tornando-se cinza daquela melancolia toda. Tento afugentar as nossas memórias que, de tão intensas, passam a ser possíveis para mim de tocar, e logo em seguida, encontro-me revivendo todas aquelas lembranças com uma expressão meio boba no rosto. Forço minha mente a expelir o que de ruim ficou, deletar todos os erros e as chances jogadas ao ar, as guerras e as palavras que atingiam com precisão, as inúmeras falhas desculpas e os sentimentos que se tornaram tão exaustivos e pesados.
A verdade é que amar tornara-se doloroso, me deixara exausta. Exausta daquele fardo pesado que era sentir (e, oh meu Deus, eu senti tanto!). Essa bola de ferro que arrasto em meus pés com o pesar desse sentir intenso. Acabou como um trabalho árduo que joguei sob minhas próprias costas.
Enquanto entrego ao vento todas aquelas antigas mágoas e sinto-me um pouco mais leve, desejo que as coisas não tivessem tomado o rumo que seguiram, entretanto o destino prega-nos tantas peças, nos surpreende de formas tão impossíveis... Por isso, o deixo se encarregar da minha decisão. No entanto, não me arrependo. Sentir aquela dor torturante acabou me embebedando de masoquismo. Quando voltei à minha sã consciência, era tarde para consertar. O amor deixou meu coração de ressaca. Então um brinde aos corações partidos!
Guardemos nossas memórias. Eternizei cada olhar que gritava o que nossos lábios não precisavam dizer, cada beijo urgente para saciar aquela saudade martelante no peito, cada toque, cada risada, cada abraço - incluindo aquele último com gosto amargo de "adeus".
Que essa falta de 'nós' nos dê a certeza da dúvida que nunca soubemos explicar, se ainda vale à pena lutar para ressuscitar o que tanto tentamos enterrar.
Visto minha mente de escuridão. Meus pêsames, estou de luto por nós.

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